Em sua palestra de ontem, que completou o módulo "Mudanças Climáticas e Perspectivas para o Brasil", o professor José Eli da Veiga focou na questão do crescimento e do desenvolvimento econômico na transição ao baixo carbono. Inicialmente ele apresentou alguns dados a respeito da evolução
das emissões de carbono no período de 1980 a 2006, entre os quais destacou as emissões de carbono (em US$ por unidade de produto): nos países mais desenvolvidos caíram de 600 gramas para 400 gr; na China de 3,1 Kilos para 1,1 Kg; na África do Sul aumentaram de 1,5 Kg para 1,7 Kg e no Brasil aumentaram de 237 gr para 268 gr. No Brasil, o dado refere-se à parcela de 20% do total das emissões de carbono do país decorrentes do uso de combustíveis fósseis (60% e 20% decorrem, respectivamente, do desmatamento e da pecuária).
Nesse mesmo período de 1980 a 2006, houve uma queda das emissões de carbono de 1 Kg para 770 gr por unidade de produto. As emissões globais, porém, aumentaram em termos absolutos devido ao aumento da população e da renda média. Em 2007 a população do planeta era de 6,6 bilhões de habitantes e a renda média era de US$ 5,9 mil contra, respectivamente, 5,3 bilhões e US$ 4,7 mil em 1990. Esse descolamento dentre emissões de carbono por unidade de produto e emissões globais de carbono é o que José Eli chamou de “dilema do crescimento”. Países mais desenvolvidos deveriam começar a pensar se querem continuar crescendo ou se querem se desenvolver economicamente. São os casos, por exemplo, dos países escandinavos e da Áustria, onde a população está estável ou diminuindo. Nesses lugares, o que importaria é a expectativa de vida com qualidade de saúde e de educação. Países como o Brasil, China e Índia, onde há ainda pobreza, querem continuar crescendo e não haveria justificativa para impedir que a população mais pobre desses lugares tenha maior acesso a bens materiais. Porque quer continuar crescendo, a China prefere que as emissões de carbono continuem a ser medidas “per capita” e não por “intensidade de carbono”.
Essa situação, segundo José Eli, dificulta uma negociação internacional sobre metas de redução de carbono. Para concluir, embora reconheça que não seja tarefa fácil, José Eli afirmou que é preciso rever a “cultura” do cálculo do Produto Interno Bruto – PIB como medida do crescimento econômico. O PIB, ao contrário da contabilidade das empresas, não leva em consideração as amortizações pelo uso dos ativos (reservas minerais, de petróleo e carvão, florestas e demais bens do planeta). Nesse sentido, ele recomendou a leitura do livro “A Natureza como limite da economia” de Andrei Cechin.
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