O Banco Central (BC) acaba de divulgar a quarta edição do Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticos (RIS) de 2024. Vale mencionar aqui alguns de seus destaques.
No capítulo 1 do RIS, que trata da Governança, o BC apresenta
a matriz de riscos estratégicos de 2024 referente ao objetivo de “promover
finanças sustentáveis e contribuir para redução de riscos socioambientais e
climáticos na economia e no Sistema Financeiro Nacional (SFN). Quanto a esse
objetivo o BC identifica a possibilidade de perturbações à estabilidade do SFN decorrentes
da ocorrência de eventos climáticos, ambientais e sociais, que têm se tornado
mais frequentes e severos. Cita as enchentes que ocorreram em 2023 e 2024 no Rio
Grande do Sul, que podem impactar a
estabilidade econômica local e, no limite, podendo contaminar o SFN. O
monitoramento da saúde financeira de cooperativas de crédito e a atuação das
esferas de governo no enfrentamento de catástrofes são ações mitigadoras desse
risco.
No capítulo 2 do RIS, intitulado Planeta, o BC apresenta
estudos e análises sobre possíveis impactos dos riscos sociais, ambientais e
climático na política monetária e no SFN. Entre esses estudos, o BC salienta as
consequências econômicas e financeiras do desastre de Mariana com foco na
questão da disponibilidade de água limpa. O estudo procurou quantificar as
externalidades negativas da contaminação da água do Rio Doce. Essa contaminação
levou, primeiramente, à queda da produção e, depois, do consumo, com efeitos
reais na produção agrícola e de serviços dos municípios afetados, causando uma
queda de 7% no PIB local. Em suma, ficou evidente o declínio do consumo e a
destruição da riqueza com efeitos consideráveis no PIB dos municípios
litorâneos afetados mais dependentes da agricultura.
No RIS, o BC reconhece que os eventos climáticos extremos
têm o potencial de afetar a estabilidade financeira. Nesse sentido tem procurado
avançar na adoção de ações para mitigar os riscos climáticos, como, por
exemplo, georreferenciar exposições de crédito das instituições financeiras ao
risco climático físico. Além disso, no próximo ano, o BC pretende reavaliar as
estimativas de impacto da materialização dos riscos físicos de secas e chuvas
intensas sobre essas instituições, realizadas em 2023 e 2024, agregando novas
metodologias e cenários que estão sendo desenvolvidos no âmbito da Network for
Greening the Financial System (NGFS), da qual faz parte.
Além da maior frequência e agravamento dos eventos climáticos, o BC tem um outro importante motivo para avançar em relação ao aprimoramento da gestão e do monitoramento dos riscos climáticos no SFN. A pesquisa apresentada no Relatório de Estabilidade Financeira (REF), que o BC divulgou no último mês de abril, revelou que apenas 42% das instituições financeiras afirmaram que os riscos climáticos de transição fazem parte de seu gerenciamento de risco. E apenas 19% fazem avaliações desses riscos para um horizonte de longo prazo.
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