A United Nations Environment Programme Finance
Initiative – UNEP FI (Iniciativa Financeira das Nações Unidas para o Meio
Ambiente) acaba de divulgar o Estudo ‘Como os bancos da América Latina e o
Caribe incorporam a mudança climática na sua gestão de riscos’. Esse Estudo
avaliou 78 instituições financeiras (bancos comerciais, bancos de
desenvolvimento e bancos públicos) de 11 países da região da América Latina e
Caribe. Ele inclui os seguintes 11 bancos com operações no Brasil: Itaú-Unibanco,
Bradesco, do Brasil, BNDES, Safra, Triangulo, Votorantim (atual BV), Caixa
Econômica Federal, China Construction Bank Brasil (ex-Bicbanco), Santander
Brasil e Sicredi. As instituições financeiras analisadas representam 54% do
total de ativos sob gestão na região.
O Estudo procura identificar o nível de conhecimento, compromissos atuais e metas futuras de gestão do risco climático do setor bancário na região e, assim, apresentar um diagnóstico comparativo que contribua para a disseminação de informações a respeito do referido risco. A UNEP FI elaborou o Estudo com base em uma pesquisa, cujo foco foi avaliar o grau de maturidade e capacidades de cada banco a respeito dos fatores Ambientais, Sociais e de Governança - ASG e de conhecimento das recomendações da Task Force on Climate-related Financial Disclosures – TCFD (Grupo de Trabalho sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima).
ü
41%
não possuem mecanismos para identificar, analisar e gerenciar os riscos
climáticos.
ü
38%
incorporam diretrizes associadas às mudanças climáticas em sua estratégia.
ü
24%
têm uma política de avaliação e divulgação de riscos climáticos.
ü
32%
possuem uma equipe de trabalho específico para supervisar riscos climáticos
ü
69%
indicaram que o setor econômico visto como mais exposto aos riscos climáticos é
o agropecuário, seguido pelo setor de geração de energia com 44%.
ü
80%
indicaram que o principal risco físico a ser incorporado em sua avaliação de
risco e gestão é o decorrente de inundações, seguido pelo risco de secas com
41%.
ü 53% utilizam o relatório de sustentabilidade como mecanismo para divulgar os riscos associados as mudanças climáticas, enquanto apenas 16% relatam por meio de suas demonstrações financeiras regulatórias, conforme as recomendações da Task Force on Climate-related Financial Disclosures – TCFD (Grupo de Trabalho sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima).
As conclusões acima mencionadas revelam, segundo o Estudo, que os bancos da América Latina e do Caribe não gerenciam o risco climático devido, principalmente, à falta de informação sobre o impacto financeiro das mudanças climáticas e à ausência de demandas por parte dos órgãos reguladores. O Estudo acrescenta ainda que os bancos tendem a perceber o risco climático na perspectiva de como as empresas impactam o meio ambiente, e não como as empresas estão expostas aos impactos das mudanças climáticas, o que é fundamental tendo em vista os crescentes eventos climáticos extremos, conforme observa o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC.
A respeito da carência de informações para avaliação do impacto financeiro das mudanças climáticas, a Network for Greening the Financial System – NGFS, rede mundial de bancos centrais e autoridades supervisoras do setor financeiro, que inclui o Banco Central do Brasil, lançou recentemente um estudo que disponibiliza aos bancos uma estrutura metodológica acessível e clara para converter cenários climáticos em análises macrofinanceiras (vide aqui nosso artigo de 25/06/2020).
O Estudo da UNEP FI observa que os bancos têm uma oportunidade de integrar a avaliação do risco das mudanças climáticas em suas áreas de negócios. Nesse sentido, aqui no Brasil, caberia ao Banco Central, conjuntamente com as instituições financeiras, promover uma ampla discussão para revisão da Resolução 4.327/2014 a fim de fortalecer as diretrizes de gestão de riscos ASG, particularmente do risco climático, e buscar fomentar produtos financeiros voltados à economia de baixo carbono e de menor consumo de recursos naturais.
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